
Estudo aponta que Cerrado pode expandir produção de carne e soja sem desmatamento até 2030
Um estudo liderado pelo Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento da Universidade Federal de Goiás (Lapig/UFG), em parceria com a The Nature Conservancy (TNC) e a Universidade Federal de Sergipe (UFS), revela que é possível aumentar a produção de carne e soja no Cerrado até 2030 sem a necessidade de novos desmatamentos. A proposta aposta na recuperação de áreas degradadas e na intensificação sustentável das pastagens.
De acordo com o professor Laerte Ferreira, coordenador da pesquisa, a chave está em uma estratégia técnica que permite liberar áreas para a agricultura sem comprometer a vegetação nativa. “É possível crescer sem desmatar”, destaca Ferreira.
O modelo proposto é baseado em Paisagens Produtivas Sustentáveis, que conciliam a produção agrícola com a regeneração de ecossistemas. A especialista do Lapig, Maria Hunter, ressalta que a pastagem pode ser tanto um problema quanto uma solução: mal manejada, degrada o solo e aumenta emissões de carbono; bem conduzida, contribui para a recuperação do solo e retenção de carbono.
O estudo analisou 50 milhões de hectares de pastagens no Cerrado e os classificou conforme o vigor produtivo: 13,2 milhões de hectares têm baixo vigor; 20,9 milhões, vigor médio; e 15,9 milhões, alto vigor. As pastagens de alto vigor, por si só, já sustentariam 34,1 milhões de unidades animais, enquanto a recuperação de áreas de vigor médio e baixo permitiria alcançar a meta de 61 milhões até 2030.
Além da pecuária, o modelo prevê a conversão de parte das áreas de pastagens degradadas em plantações de soja, garantindo a expansão de 3 milhões de hectares do cultivo. Outras áreas seriam destinadas à regeneração da vegetação nativa, somando 16 milhões de hectares.
Apesar da viabilidade ambiental e econômica do cenário, os pesquisadores alertam que sua implementação depende de políticas públicas, assistência técnica e incentivos financeiros. O estudo sugere que, com planejamento e apoio governamental, o Brasil pode conciliar crescimento agropecuário e conservação ambiental no bioma Cerrado.