Mercado financeiro reage com otimismo, mas até quando o Brasil dependerá de fatores externos?

O dólar fechou a semana em queda, a bolsa de valores se manteve estável e investidores respiraram aliviados. Mas a pergunta que fica é: até quando o Brasil vai depender tanto do humor de outros países para manter o equilíbrio do seu próprio mercado financeiro?

Nesta sexta-feira (15), o dólar comercial recuou 0,35% e voltou a ser negociado abaixo de R$ 5,40. A valorização da moeda brasileira não veio por méritos próprios. Veio por expectativas criadas a partir de conversas entre Donald Trump e Vladimir Putin e da possibilidade de corte de juros pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos.

Já o Ibovespa, principal índice da B3, sofreu oscilações ao longo do dia e fechou praticamente estável, com leve queda de 0,01%. Nada mal para uma economia que ainda enfrenta desafios internos estruturais. Mas também não é motivo de comemoração exagerada.

Quando o Brasil se tornará protagonista da própria economia?

A estabilidade da moeda e da bolsa ainda depende de fatores externos — guerra na Ucrânia, juros nos EUA, bolsas asiáticas, humor de Wall Street. A economia brasileira reage como passageira de um carro conduzido por outros.

Mesmo quando notícias internas surgem, como os balanços do segundo trimestre de empresas nacionais, o impacto é tímido. Um exemplo é o caso do Banco do Brasil, que apesar da queda de 40% no lucro, teve valorização em suas ações por “cumprir o previsto”. Cumprir o previsto, no Brasil, já é considerado positivo. Isso revela o quanto estamos reféns da instabilidade.

O real se valoriza, mas isso é sustentável?

A valorização do real, que acumula alta de 3,62% em agosto e mais de 12% no ano, mostra uma aparente confiança na moeda brasileira. Mas é importante lembrar que essa confiança não se deve apenas à condução econômica local, e sim ao enfraquecimento do dólar e ao ambiente internacional volátil. Ou seja, o Brasil ganha quando os outros erram.

Conclusão: estabilidade aparente, fragilidade real

O dia foi positivo no mercado financeiro. Mas é preciso olhar além da cotação do dólar e do gráfico da bolsa. O país precisa de autonomia econômica, planejamento estratégico e políticas que não fiquem à mercê de acenos ou ameaças internacionais. A economia brasileira não pode viver apenas de reações. Precisa agir.

Enquanto isso não acontece, seguiremos comemorando quedas pontuais do dólar como vitórias — mesmo que o volante ainda esteja nas mãos de outros.