Gastos da Prefeitura de Goiânia com shows da Pecuária superam R$ 7,7 milhões e viram alvo de investigação

Evento é custeado integralmente com recursos do Tesouro Municipal, em meio a decreto de calamidade financeira

Os gastos da Prefeitura de Goiânia com os shows da 78ª Exposição Agropecuária, que ocorre em 2025, já somam mais de R$ 7,7 milhões, segundo documentos obtidos pela reportagem. Todo o valor é custeado com recursos do próprio município, por meio da Fonte 100, que corresponde ao Tesouro Municipal, sem qualquer convênio, emenda parlamentar ou financiamento externo.

Os dados revelam que os recursos utilizados poderiam ser destinados a áreas como saúde, assistência social e infraestrutura, especialmente em um cenário no qual a capital está oficialmente sob decreto de calamidade financeira, renovado recentemente por mais 180 dias.

Caches milionários

Entre os valores mais altos pagos a artistas, estão:

  • Wesley Safadão – R$ 1.050.000,00

  • Simone Mendes – R$ 800.000,00

  • Murilo Huff – R$ 800.000,00

  • Natanzinho – R$ 600.000,00

  • Amado Batista – R$ 550.000,00

  • Belo – R$ 550.000,00

  • Edson & Hudson – R$ 450.010,00

  • Pablo – R$ 400.000,00

Somente com cachês, o município desembolsará R$ 7.378.010,00. Além disso, a estrutura de som e iluminação foi contratada por mais R$ 558.520,02, totalizando um investimento que ultrapassa R$ 7,7 milhões, valor que pode crescer com pagamentos de camarins, produtores e despesas operacionais de segurança, trânsito e comunicação.

Contradição com decreto de calamidade

Os pagamentos chamam atenção porque foram feitos diretamente do orçamento do Tesouro, utilizando a flexibilidade concedida ao prefeito Sandro Mabel (UB) por meio de uma emenda aprovada na Lei Orçamentária, que permite ao chefe do Executivo remanejar até 50% do orçamento – um percentual considerado atípico, já que em gestões anteriores o limite era de 30%.

Investigações e questionamentos

O caso gerou repercussão na Câmara Municipal e também nos órgãos de controle. O Ministério Público de Goiás (MP-GO) e o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO) já abriram procedimentos para investigar se os gastos com o evento são compatíveis com o decreto de calamidade financeira e se foram feitos de maneira transparente e legal.

Polêmica sobre ingressos gratuitos

Apesar da promessa de gratuidade, ingressos esgotam rapidamente pela internet, e há denúncias de revenda por cambistas, que chegam a cobrar até R$ 150,00 nas portas do evento. A organização afirma que controla a emissão dos ingressos por meio de CPF e que denúncias devem ser feitas à Polícia Civil.

Sem previsão de retorno ou contrapartida

Até o momento, a Prefeitura de Goiânia não apresentou estimativas oficiais sobre o retorno financeiro do evento para os cofres públicos, nem confirmou se há patrocínio da iniciativa privada. Também não foi divulgado o impacto na arrecadação, no turismo ou na geração de empregos temporários.

A gestão informou, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, que divulgará uma nota oficial apenas após a conclusão do evento e dos processos de pagamento.