
Sanções ao Brasil e censura nos EUA: a polêmica atuação de Donald Trump
Donald Trump, o paladino autoproclamado da liberdade de expressão mundial, resolveu mais uma vez demonstrar sua coerência peculiar: sanciona o Brasil em nome da livre palavra, mas ameaça censurar emissoras americanas que ousam criticá-lo.
De volta dos compromissos no Reino Unido, Trump declarou que redes que transmitem críticas constantes ao seu governo deveriam ter suas licenças de radiodifusão revistas. “Eles só falam mal de mim. Talvez a licença devesse ser retirada”, disse, como quem fala de trocar o filtro do ar-condicionado. O detalhe é que a decisão, segundo ele, caberia ao chefe da FCC, Brendan Carr, descrito por Trump como um “patriota” pronto para defender a pátria — aparentemente contra piadas e reportagens.
No mesmo compasso, a ABC retirou do ar o programa de Jimmy Kimmel, após pressão direta da Casa Branca. O apresentador, crítico ácido de Trump, havia ironizado a forma como o movimento MAGA explorava politicamente o assassinato de Charlie Kirk. Resultado: censura “indefinida”, protestos de democratas e da sociedade civil, e um presidente celebrando o corte sob a desculpa de que Kimmel “não tem talento”. A liberdade, afinal, pode até ser expressão — mas só se for elogio.
E aqui está o paradoxo digno de tragicomédia: enquanto corta vozes dentro dos EUA, Trump aponta o dedo para Brasília e acusa o Supremo de perseguir Bolsonaro, sanciona exportações brasileiras e ameaça até intervenção militar para salvar a “liberdade” por aqui. Ou seja, no Brasil ele veste a toga de defensor dos oprimidos; em casa, prefere o uniforme de censor em horário nobre.
No fim das contas, a tal liberdade de expressão parece ter um manual muito simples para Trump: é livre quando concorda comigo; quando discorda, não passa de “falta de talento”.