
EUA enviam destróieres ao Caribe e Maduro mobiliza 4,5 milhões de milicianos em resposta
A crise diplomática entre Estados Unidos e Venezuela ganhou novos contornos nesta terça-feira (19), após a Casa Branca anunciar o envio de três destróieres e cerca de 4 mil militares para o Caribe. Em reação, o presidente venezuelano Nicolás Maduro convocou 4,5 milhões de milicianos para reforçar a defesa nacional, em um movimento que ele classificou como resposta à “ameaça norte-americana”.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que os EUA estão preparados para usar “toda a força” contra o regime de Maduro. “Ele não é um presidente legítimo, mas um fugitivo e chefe de um cartel narcoterrorista acusado nos EUA de tráfico de drogas. Donald Trump está preparado para usar toda a força americana para deter o narcotráfico”, declarou Leavitt a jornalistas em Washington.
Segundo a agência Reuters e a CNN, o deslocamento militar inclui os destróieres USS Gravely, USS Jason Dunham e USS Sampson, da classe Arleigh Burke, equipados com mísseis guiados pelo sistema Aegis, além de aviões de vigilância P-8 e pelo menos um submarino de ataque. As embarcações devem permanecer em águas internacionais, mas próximas à costa venezuelana, em operações que poderão se estender por meses.
Em pronunciamento transmitido pela TV estatal, Maduro acusou Washington de preparar uma agressão militar e anunciou a mobilização das milícias bolivarianas: “Ativaremos um plano especial para garantir a cobertura de todo o território nacional, com mais de 4,5 milhões de milicianos preparados, ativados e armados. A Venezuela defenderá nossos mares, nossos céus e nossas terras”, disse o chavista.
As milícias foram criadas pelo ex-presidente Hugo Chávez e, segundo o governo, contam atualmente com cerca de 5 milhões de integrantes. Elas se tornaram um dos cinco componentes oficiais da Força Armada Nacional Bolivariana (Fanb), reforçando o poder militar do regime.
A ofensiva norte-americana ocorre em meio a uma política mais dura do governo Donald Trump contra cartéis de drogas, reclassificados como organizações terroristas. Entre os alvos estão grupos mexicanos como o Cartel de Sinaloa e o Jalisco Nova Geração, o Clã do Golfo colombiano, a gangue salvadorenha MS-13 e o venezuelano Tren de Aragua.
No início de agosto, Washington já havia dobrado para US$ 50 milhões a recompensa por informações que levem à prisão de Maduro, acusado de liderar o chamado Cartel dos Sóis, composto por oficiais das Forças Armadas venezuelanas.
A movimentação militar preocupa países latino-americanos. O México, historicamente marcado por intervenções dos EUA, foi rápido em tentar minimizar o impacto da operação. A presidente Claudia Sheinbaum declarou que a presença naval americana “não é um ato de intervencionismo” por ocorrer em águas internacionais.
No Brasil, o governo Lula rejeitou em maio uma proposta dos EUA de classificar facções criminosas como o PCC e o Comando Vermelho como organizações terroristas, sob o argumento de que a legislação brasileira não enquadra esses grupos nesse conceito, já que suas ações têm caráter econômico, e não ideológico.
A escalada amplia a tensão no continente e reacende o debate sobre os limites da intervenção militar dos Estados Unidos na região, em um cenário que combina disputas geopolíticas, narcotráfico e a sobrevivência política de Nicolás Maduro.