
Terceirização dos parques em Goiânia: solução prática ou sintoma de abandono da gestão pública?
A declaração do prefeito de Goiânia, Sandro Mabel, sobre a terceirização dos parques públicos da capital goiana expõe uma das questões mais delicadas da administração municipal: a dificuldade do poder público em garantir serviços básicos com qualidade, como a manutenção de banheiros e a limpeza de áreas verdes. O argumento central de Mabel é direto: “não temos competência para fazer isso”, referindo-se à manutenção contínua desses espaços.
Ao assumir essa limitação, o prefeito sinaliza que a solução seria a concessão à iniciativa privada por meio de editais. Empresas teriam a autorização para explorar economicamente os parques — com publicidade e comércio — em troca da responsabilidade pela conservação dos espaços. A medida é respaldada pela Lei Orgânica do Município (nº 10.383/2019), desde que garantido o livre acesso da população.
No entanto, é preciso refletir: até que ponto essa concessão representa eficiência? E em que momento ela se torna abdicação do dever público?
A gestão pública e o papel do Estado
Quando um gestor diz que “não dá conta” de repor papel higiênico em banheiros de parque, o que está em xeque não é apenas a eficiência operacional, mas a confiança na capacidade administrativa da prefeitura. A função do poder público não é apenas executar, mas planejar, fiscalizar e garantir que os serviços essenciais sejam prestados com regularidade e equidade. A terceirização pode ser uma ferramenta útil, mas não pode se tornar regra por incompetência gerencial ou descaso com o serviço público.
Parceria ou concessão disfarçada?
A proposta de “adoção” dos parques por empresas, que poderão lucrar com publicidade e exploração comercial, levanta o alerta: até que ponto esse modelo será regulado com rigor? Haverá limites? A fiscalização será efetiva? Uma concessão desbalanceada pode transformar o que hoje é um espaço democrático em uma vitrine comercial, onde o interesse público cede lugar à lógica do lucro.
O direito à cidade e os espaços públicos
Parques são mais do que áreas verdes — são espaços de convivência, lazer, saúde e cidadania. Terceirizar sua gestão não pode significar “embelezamento para poucos”. O risco de elitização e descaracterização desses ambientes precisa ser considerado, especialmente em uma cidade como Goiânia, onde os parques são um dos poucos refúgios acessíveis da urbanização desordenada.
A terceirização dos parques pode até oferecer soluções pontuais, mas também escancara um problema mais profundo: a falta de planejamento e capacidade da gestão pública de cuidar do bem coletivo. É legítimo discutir parcerias com a iniciativa privada, mas o que não se pode admitir é que esse movimento se torne um álibi para o Estado se ausentar de suas responsabilidades. Os parques são do povo — e o povo deve ser o verdadeiro beneficiado, não apenas espectador de decisões que favorecem poucos e enfraquecem a função pública.