Tarifas de Trump contra o Brasil repercutem na mídia internacional e acendem alerta sobre crise diplomática

A decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil a partir de 1º de agosto causou forte repercussão na imprensa internacional nesta quarta-feira (9/7). Veículos como The Wall Street Journal, Bloomberg, Reuters, The New York Times, Financial Times e Le Monde apontam que a medida tem motivações políticas, econômicas e geopolíticas, podendo agravar tensões entre os dois países e afetar mercados globais.

Segundo o Wall Street Journal, a ação de Trump estaria diretamente ligada ao desconforto com as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente do ministro Alexandre de Moraes, no combate à desinformação e aos discursos de ódio promovidos por extremistas de direita — tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. O jornal destaca o alinhamento do republicano com o ex-presidente Jair Bolsonaro e a tentativa de interferência na Justiça brasileira como pano de fundo para as novas sanções.

Já a Reuters alertou que o anúncio pode ser apenas o primeiro passo de um processo mais amplo, já que Trump ordenou ao Representante de Comércio dos EUA (USTR) a abertura de uma investigação contra o Brasil, com base na Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 — a mesma legislação que fundamentou a guerra comercial com a China.

A Bloomberg enfatizou os impactos imediatos no mercado financeiro: o real caiu quase 3% em relação ao dólar e o MSCI Brazil ETF, principal fundo que acompanha as ações brasileiras nos Estados Unidos, recuou quase 2% no pós-mercado, sinalizando a preocupação de investidores com uma possível deterioração nas relações bilaterais.

Para o New York Times, a escalada da disputa tem potencial para gerar profundas repercussões econômicas, já que os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. O jornal aponta que Trump estaria usando as tarifas como instrumento de pressão para forçar o fim da acusação contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal, o que configura uma tentativa de interferência externa nos assuntos internos do Brasil.

O Financial Times observou que a carta enviada por Trump ao governo brasileiro teve um tom “marcadamente diferente” do utilizado em comunicações com outros países, como Índia e África do Sul, que também integram o Brics. O jornal britânico cita que, embora os EUA tenham tido um superávit comercial de US$ 7,4 bilhões com o Brasil em 2024, Trump insiste em justificar a medida como forma de “corrigir desequilíbrios comerciais”.

O francês Le Monde lembrou que, dias antes do anúncio, Trump havia ameaçado impor sanções adicionais a países que, segundo ele, adotassem políticas “antiamericanas” ligadas ao Brics — bloco atualmente presidido pelo Brasil. A retaliação seria uma resposta à cúpula realizada no Rio de Janeiro no domingo (6), na qual os membros do Brics criticaram o protecionismo comercial adotado pelos EUA.

A ofensiva de Trump levanta preocupações sobre uma possível crise diplomática entre os dois países, com impacto direto sobre as exportações brasileiras, especialmente de produtos industrializados, agrícolas e minerais. Enquanto o governo brasileiro ainda avalia uma resposta formal, analistas apontam que o episódio pode reacender o debate sobre a dependência comercial do Brasil em relação aos Estados Unidos e fortalecer a agenda de diversificação de parcerias internacionais.